O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai adotar o lema “Brasil Soberano” nas celebrações do Dia da Independência, em 7 de Setembro. O mote ganha força em um momento de tensão política, marcado pelo julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) e pela imposição de sobretaxas de 50% a produtos brasileiros pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Segundo a Folha de S. Paulo, auxiliares diretos de Lula afirmam que a ênfase na soberania, já presente em discursos do petista e mencionada na cerimônia de 2024, assume nova relevância diante do cenário atual. A estratégia busca também ressignificar a pauta do patriotismo, que nos últimos anos esteve associada ao bolsonarismo.
O tradicional desfile cívico-militar será organizado pelo governo federal em parceria com o Comando Militar do Planalto. A Casa Civil conclui os trâmites da licitação vencida pela empresa Palestino Estrutura e Eventos Ltda, responsável por erguer tribunas e arquibancadas ao custo de R$ 4,3 milhões. O projeto prevê cinco áreas para autoridades e familiares e 15 arquibancadas para o público, com capacidade para 30 mil pessoas. Haverá ainda tendas de apoio, espaço reservado para a imprensa e reforço na segurança.
O Exército deve mobilizar cerca de 2 mil militares, além de blindados e aeronaves. Apesar da coincidência com o julgamento de Bolsonaro, militares afirmaram à reportagem que não há preocupações quanto à segurança. O temor é que manifestações bolsonaristas contra o STF previstas para a mesma data ofusquem o evento oficial.
A Primeira Turma do Supremo inicia em 2 de setembro o julgamento de Bolsonaro, militares e aliados pela tentativa de golpe em 2022. A decisão final deve sair apenas na semana seguinte. Oficiais ouvidos pelo jornal lembraram que Bolsonaro utilizava o 7 de Setembro para ataques contra o STF e receiam que novos atos políticos dividam a atenção da data.
Um ministro do governo Lula declarou que a proximidade do julgamento não altera os planos e ressaltou que a ocasião deve reforçar o patriotismo. Ele também criticou a postura da família Bolsonaro nos Estados Unidos, classificando-a como contrária aos interesses nacionais.
Ainda de acordo com a reportagem, não está definido se Lula fará pronunciamento em rede nacional. Em 2024, o presidente utilizou o 7 de Setembro para criticar o bilionário Elon Musk e defender a soberania brasileira frente a pressões externas. Mais recentemente, ao reagir ao tarifaço de Trump, Lula declarou: “O país tem um único dono, o povo brasileiro”. A narrativa em torno da soberania se tornou um eixo central de seu governo diante do novo embate comercial e diplomático com Washington.
Além da cerimônia oficial em Brasília, movimentos sociais, centrais sindicais e partidos progressistas planejam grandes manifestações. O Dia da Mobilização Nacional, como está sendo chamado, deve ocorrer em ao menos 18 capitais, com destaque para São Paulo, onde o ato central será realizado na Praça da República.
Nas redes sociais, os organizadores têm divulgado mensagens como “quem manda no Brasil é o povo brasileiro” e “Brasil soberano”. Segundo Raimundo Bonfim, coordenador-geral da Central de Movimentos Populares (CMP) e da Frente Brasil Popular, “serão dois campos políticos nas ruas: a direita defendendo o tarifaço e a ingerência dos EUA de um lado, e de outro nós, da esquerda, democratas e progressistas, defendendo a soberania, a democracia e os direitos”.
As manifestações também pretendem abordar pautas sociais e econômicas, como a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil, a taxação dos super-ricos, o fim da escala 6x1 e a rejeição à anistia para condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. O PT atua para que as mobilizações alcancem tanto as capitais quanto cidades médias, ampliando a presença nas ruas.