Muita gente vai achar o novo álbum de Justin Bieber meio... chato. Mas o que faz o disco "Swag", lançado nesta sexta-feira (11), ser entediante em alguns momentos é também a sua maior qualidade.
Ex-astro adolescente, Bieber dedicou boa parte da carreira até aqui ao esforço para provar que cresceu -- não só emocionalmente, mas também em sua capacidade criativa. Nesse trajeto, acabou se tornando muito bom em incorporar e sintetizar estéticas e sonoridades que marcaram eras na música.
Por exemplo: em 2015, o álbum "Purpose" virou símbolo do pop vibrante de sons ultra graves, que fazia sucesso naquele momento, também em músicas de nomes como Major Lazer e Drake. Já o "Justice", de 2021, encaixou direitinho no R&B suave que estava bombando, com SZA, Daniel Caesar, H.E.R e outros artistas, além de incluir elementos do pop africano, que começava a virar tendência.
Não é diferente com o "Swag", seu sétimo trabalho de estúdio, divulgado de surpresa após um hiato de quatro anos. O cantor canadense se apoia em influências que vão de Michael Jackson a Frank Ocean, e retira ainda mais peso de suas músicas, para criar um disco lo-fi -- mais um fenômeno que é a cara dos anos 2020.
O termo é uma abreviação de "low-fidelity" (baixa fidelidade) e descreve sons marcados por imperfeições intencionais na gravação. As músicas lo-fi geralmente têm produção menos agressiva, mais delicada e minimalista, que propositalmente parece caseira.
É, acima de tudo, um estilo de música sem tantos estímulos. Por isso, nos últimos anos, playlists lo-fi viraram mania entre millennials e zillennials exaustos, em busca de sons ambientes com baixo impacto.
Foi uma escolha ousada, até corajosa, do cantor. Apesar de ter crescido na música alternativa, o lo-fi não pegou tanto no pop comercial. Artistas como Billie Eilish, Benson Boone e Sabrina Carpenter, que se revezam hoje no topo das paradas, têm explorado produções mais grandiosas ou "bagunçadas". Para ouvidos desacostumados, a suavidade do disco de Bieber pode ser monótona.
Mas é fato que o artifício funciona muito bem em vários momentos do "Swag". Em "Things you do", uma canção de amor fofa e intimista, parece que ele está sentado na cama tocando guitarra e cantando baixinho só para você. Um sonho.
Já "Go baby", balada que o cantor dedica mais claramente à sua mulher, Hailey Bieber, é melosa demais. "Essa é a minha garota, ela é icônica, capinha de iPhone com gloss labial", diz a letra, uma referência ao produto lançado pela marca de beleza criada por Hailey. Dá a sensação de estar ouvindo um disco de Ed Sheeran. Tem quem goste, pode virar hit.