Um navio de guerra chinês apontou um laser militar contra uma aeronave alemã no Mar Vermelho no início de julho, criando uma nova tensão diplomática entre os dois países. O caso aconteceu durante uma missão da União Europeia para proteger navios comerciais na região.
O que aconteceu
O incidente ocorreu em 2 de julho de 2025, quando uma aeronave alemã realizava um voo de vigilância como parte da Operação Aspides da União Europeia. A missão tem como objetivo proteger embarcações comerciais dos ataques dos rebeldes houthis do Iêmen.
Segundo o Ministério da Defesa alemão, um navio de guerra chinês apontou um laser para a aeronave "sem motivo ou comunicação prévia durante um voo de missão de rotina". O avião alemão precisou abortar a missão e retornar à base em Djibuti como medida de segurança.
A Alemanha reagiu com firmeza ao episódio. O Ministério das Relações Exteriores convocou o embaixador chinês em Berlim para prestar esclarecimentos, uma medida que na linguagem diplomática indica grave descontentamento.
"O perigo para a tripulação alemã e a interrupção da missão são completamente inaceitáveis", declarou o governo alemão. A União Europeia também apoiou a posição alemã, tratando o caso como uma afronta a uma operação coletiva europeia.
A China, por sua vez, negou as alegações alemãs e afirmou que a história "não corresponde aos fatos", pedindo diálogo para evitar mal-entendidos.
O uso de lasers contra aeronaves representa um sério risco de segurança. Os feixes de luz podem causar:
Segundo a Administração Federal de Aviação dos EUA, "durante as fases críticas do voo, quando o piloto não tem tempo suficiente para se recuperar, as consequências da exposição ao laser podem ser trágicas".
Este não foi um caso isolado. A China já foi acusada de usar lasers militares contra aeronaves de outros países:
O Mar Vermelho é uma rota comercial vital, por onde passa 12% de todo o comércio mundial através do Canal de Suez. A China possui uma base militar em Djibuti desde 2017, sua primeira instalação militar no exterior, estrategicamente posicionada para monitorar essa importante via marítima.
A Operação Aspides representa um esforço da União Europeia para agir de forma independente na segurança marítima, sem depender totalmente dos Estados Unidos. Para a China, isso pode representar uma interferência indesejada em uma região onde tem interesses econômicos significativos.
Paralelamente aos incidentes diplomáticos, a Rússia tem usado sistemas de defesa laser chineses, conhecidos como "Silent Hunter", para derrubar drones ucranianos desde 2024. O sistema é um laser de fibra óptica de 30 kW montado em veículos móveis, demonstrando a sofisticação da tecnologia militar chinesa.
Especialistas militares classificam essas ações como "guerra de zona cinzenta" - táticas que ficam abaixo do limite que provocaria uma guerra convencional, mas que servem para intimidar e testar as reações dos adversários.
O uso de lasers é especialmente eficaz para essa estratégia porque:
Os incidentes crescentes sugerem que a China está testando sistematicamente até onde pode ir sem provocar uma resposta militar direta. O padrão se repete: primeiro vem o laser, depois a negação categórica, seguida de contra-acusações.
Para os países ocidentais, isso representa um dilema: como responder a essas provocações sem escalar para um conflito direto? Enquanto isso, a China parece estar estabelecendo um "novo normal" onde atos de intimidação militar se tornam aceitáveis desde que permaneçam tecnicamente abaixo do limiar de guerra.
O caso mais recente no Mar Vermelho mostra que essas táticas não se limitam mais às águas que a China reivindica no Mar do Sul da China, mas estão se expandindo para rotas comerciais globais vitais.