O influenciador Paulo Figueiredo, figura central na articulação entre Eduardo Bolsonaro e o governo dos Estados Unidos, deve se tornar réu ainda neste semestre por envolvimento na tentativa de golpe contra as instituições brasileiras. A informação foi publicada em reportagem do jornal Estado de S. Paulo.
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Figueiredo aguarda análise da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), única entre os cinco núcleos acusados que ainda não teve a denúncia convertida em ação penal. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, já decretou a prisão preventiva do investigado, que atualmente reside nos EUA e encontra-se foragido. O passaporte foi cancelado, e Figueiredo sequer indicou advogado para o processo, levando Moraes a nomear a Defensoria Pública da União (DPU) para sua defesa.
Apesar de alegar não ter sido formalmente notificado, Moraes considerou que há "ciência inequívoca" das acusações, citando vídeos publicados por Figueiredo em seu canal no YouTube nos quais ironiza a denúncia. “Alexandre não está acostumado a lidar com gente que conhece o conceito de estratégia. Vai ter que me citar por carta rogatória ou me julgar à revelia”, escreveu ele na rede X (antigo Twitter).
A DPU, mesmo sem conseguir localizá-lo, apresentou defesa prévia. Na peça, argumenta que a denúncia criminaliza o exercício da atividade jornalística crítica. Segundo os defensores, Figueiredo teria feito apenas "manifestações de cunho político" dentro do direito à liberdade de expressão. A Defensoria sustenta que não há qualquer evidência de sua participação em planejamento estruturado ou adesão a organização golpista.
Paulo Figueiredo, ex-apresentador da Jovem Pan e neto do último presidente da ditadura militar, João Baptista Figueiredo, é acusado de vazar documentos com o objetivo de pressionar generais do Exército a aderirem à tentativa de golpe durante o governo Jair Bolsonaro. Em 20 de maio, ao abrir a quarta ação penal contra investigados por tramar o golpe, Moraes afirmou: “Atenta contra a democracia do Brasil sem ter coragem de viver no Brasil e só tem influência sobre os militares por ser neto do último presidente durante o tempo de golpe militar, João Baptista Figueiredo”.
Nos Estados Unidos, Figueiredo mantém forte influência junto ao governo do presidente Donald Trump, com quem já foi sócio. Segundo o Estadão, ele articula pressões contra o Brasil, sobretudo em temas ligados à economia e à atuação do STF. No episódio recente do tarifaço imposto por Trump a produtos brasileiros, o canal de Figueiredo no YouTube somou mais de 10 milhões de visualizações em vídeos que atacam Alexandre de Moraes e o Supremo. Ganhou ainda mais de 70 mil seguidores e lucros estimados entre US$ 2,5 mil e US$ 40 mil no período, conforme dados do Social Blade.
Em vídeo publicado em 22 de julho, o influenciador confrontou diretamente o ministro: “Alexandre, entenda, nada do que você vai fazer contra mim funciona. Já tentaram de tudo. Eu sou inevitável. Eu sou imparável”.
Eduardo Bolsonaro, por sua vez, declarou em vídeo de 27 de maio que Figueiredo é o cérebro por trás das articulações internacionais que tentam isentar o ex-presidente Jair Bolsonaro das consequências jurídicas por sua tentativa de golpe. “Eu abro a porta, eu sou o coração, mas você é o cérebro”, afirmou Eduardo.
Na entrevista à Coluna do Estadão, Figueiredo também minimizou os esforços de senadores brasileiros que foram aos EUA para tentar reverter o tarifaço de Trump. “A comitiva está perdendo o tempo e vai quebrar a cara. Não há o que fazer sem um sinal claro e um compromisso de que o Brasil atenderá as demandas do presidente Trump”, afirmou, negando interesse em se encontrar com os parlamentares.
Ainda segundo a reportagem, Eduardo Bolsonaro confirmou que ele e Figueiredo atuaram diretamente junto ao governo Trump para viabilizar as sanções econômicas ao Brasil. “Os canais corretos a serem buscados não são com os políticos tradicionais, mas sim comigo e com Paulo Figueiredo”, afirmou o deputado.
Eduardo é alvo de inquérito no STF por tentativa de coação à Corte e articulação contra os interesses nacionais nos Estados Unidos. Já Figueiredo, apesar de suas ações, ainda não responde pelos mesmos fatos nesse inquérito, o que limita a atuação da DPU à denúncia específica sobre o golpe.
O caso evidencia como figuras do entorno de Bolsonaro seguem atuando internacionalmente para desestabilizar as instituições brasileiras, usando de influência política e econômica nos Estados Unidos para atacar a democracia do país. A possível transformação de Paulo Figueiredo em réu marca mais um passo na responsabilização dos envolvidos na tentativa de ruptura institucional que marcou o final do governo Bolsonaro.