A dança das cadeiras no jornalismo da Globo está longe de ser apenas uma mudança de apresentadores. A saída de William Bonner, após mais de duas décadas no comando do Jornal Nacional, abriu espaço para César Tralli, que não só herdará o posto mais cobiçado do telejornalismo brasileiro, mas também um salário astronômico: cerca de R$ 350 mil mensais.
Tralli, que atualmente ganha aproximadamente R$ 120 mil no Jornal Hoje, vai quase triplicar sua remuneração ao assumir o posto de principal âncora da emissora. O valor, revelado por fontes próximas à direção da Globo, coloca o jornalista em um dos patamares mais altos da TV aberta — em uma realidade muito distante do bolso da maioria dos brasileiros.
Enquanto a emissora alega cortes de custos em diversas áreas e enxugamento de quadros, o novo contrato expõe o paradoxo: milhões de reais são destinados a rostos estratégicos, enquanto repórteres, técnicos e equipes de bastidores enfrentam congelamento salarial e demissões silenciosas.
A movimentação também desperta debate político e social. Afinal, em um país onde o salário mínimo é de pouco mais de R$ 1,5 mil, a quantia que Tralli receberá em apenas um dia de trabalho equivale ao que um trabalhador comum ganha em quase seis meses de labuta.
Para especialistas em mídia, o reajuste salarial reflete não apenas o peso do JN como “a vitrine nacional” da Globo, mas também o papel estratégico de Tralli como nova cara do jornalismo da emissora, num momento em que a TV aberta enfrenta queda de audiência e precisa se reinventar para não perder espaço para as plataformas digitais.
A pergunta que fica é: até que ponto a imagem vale mais que a realidade? O “salário milionário” de César Tralli reforça a força do glamour televisivo, mas também joga luz sobre a desigualdade gritante de um Brasil que assiste, perplexo, ao abismo entre a tela e a vida real.